9.7.09

Entrevista no Jornal da ACIL

Entrevista concedida à jornalista Érika Pelegrino e publicada no Jornal da ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina), edição de junho 2009:

Quais os pricipais problemas que o senhor identifica hoje em Londrina, quanto à disposição de anúncios publicitários? O que é mais grave hoje neste quesito?

Nota-se que houve até hoje total ausência do poder público (no caso a Prefeitura) que deveria legislar sobre o ordenamento da comunicação exterior. Toda ação provoca uma reação contrária. As empresas de outdoor passaram de muito os limites do razoável no uso do espaço público e privado e as pessoas passaram a se incomodar com o excesso de painéis, faixas, tótens, front-lights, etc. E quando falo de excesso, bote excesso nisso: não conheço nenhuma cidade onde se vê essa incômoda, primitiva e absurda poluição visual.

O senhor tem informações sobre quantos anuncios publicitários a cidade tem? E na sua avaliação para termos condições menos agressivas de poluição visual, quantos anuncios deveríamos ter, no máximo?

Só posso me ater às informações citadas pelas empresas de outdoor e publicadas há cerca de oito meses: cerca de 600 painéis e 60 front-lights. Creio que politicamente eles foram muito comedidos nesse número. Podemos considerar que o número é bem maior, principalmente de painéis. E nem falo dos horrorosos muros pintados que se espalham pela cidade, contendo os chamados "reclames" da idade da pedra.

Na sua avaliação o problema maior é a quantidade de anúncios, o tamanho destes ou os locais onde instalados; ou ainda todos estes quesitos?

O problema é todo o conjunto de situações contido na sua pergunta. Se a Prefeitura não adotar o conceito de "Cidade Limpa", acabando de vez com todos os outdoors, o que embelezaria nossa cidade de Londrina, deveria ser adotada uma normatização similar à de Curitiba: selecionar as ruas e avenidas onde haveria outdoors, padronizar um tamanho único, impor condições para manter espaços entre cada painel (tipo um painel e dois espaços, um painel e dois espaços), padronizar as estruturas para garantir maior segurança, impor uma metragem obrigatória de afastamento das ruas, coibir painéis onde há interferência na visão dos motoristas, proibir outdoors em muros, acabar com os front-lights que tanto incomodam moradores de prédios, proibir pinturas em muros e principalmente criar uma nova legislação para a comunicação exterior na fachada das empresas. Esse é um aspecto tão importante como o dos outdoors.


Quanto aos locais, quais representam maior problema?

Hoje, a saturação de outdoors é visível nas principais avenidas por onde trafegamos: Madre Leônia, João Wycliff, Higienópolis, Maringá, Airton Senna, trechos da Santos Dumont, Tiradentes, junto ao viaduto do Shopping Catuai, e certamente em outras tantas avenidas onde passo raramente. São as avenidas onde se presume que a chamada "sociedade consumista" mais utiliza para ir de casa ao escritório, levar os filhos à escola, aos cursos complementares, às compras, aos programas, etc.


Os ataques que já existem ao projeto de lei protocolado na Câmara, na quarta-feira, vêm de empresas de publicidade e dos anunciantes. O senhor tem sugestões para driblar possíveis problemas de desemprego nas empresas que fabricam estes anuncios e para os anunciantes?

Tenho sugerido no meu blog que essas empresas desde já exerçam sua criatividade e imaginem que realmente será aqui implantada a "Cidade Limpa". Neste caso, o que fazer? Dentre as sugestões, criem empresas de restauro de fachadas, estudem novas técnicas de comunicação (em São Paulo há exemplos brilhantes a respeito), invistam em execução de vitrines (uma bela vitrine é mais chamativa do que os outdoors), façam acordos com a Infraero e a Rodoviária para utilização criativa dos espaços internos de lá, aproveitem o grande número de eventos da cidade, estabeleçam parcerias com a Prefeitura para oferecer abrigos nas paradas de ônibus que contenham um discreto patrocínio, etc. Em caso de dúvidas, chamem profissionais de comunicação competentes. Essas empresas abusaram da liberdade que lhes foi concedida por falta de fiscalização atuante e agora não têm o direito de chorar e apelar emocionalmente para o desemprego dos seus funcionários. Em São Paulo, o prefeito foi irredutível e lá não eram apenas 200 ou 250 empregados: havia milhares. E foi dado um jeito de reempregá-los.
Quanto ao aspecto "Anunciantes", eu não compreendo como é que a maioria deles aceita participar desta fileira de outdoors, que chamo de vagões de trem espalhados ao longo das avenidas. Não compreendo como aceitam outdoors que estão mais para anúncios classificados, com exageros nos textos e fotos, desvirtuando completamente os objetivos de um outdoor: leitura rápida, lembrança da marca, apoio a uma campanha global.
Muitos dos outdoors não devem ter sido criados por profissionais de comunicação - ou se foram, eles obedeceram cegamente aos desejos do anunciante. Incluíram histórico, produto, texto, nome do dono da empresa, foto da esposa, foto do filho, foto do cachorro, etc. Óbvio que dramatizei aqui, mas no meu blog há exemplos de outdoors horrorosos e ineficientes. Mais da metade dos outdoors representa dinheiro jogado fora pelos anunciantes.


Por fim, como o senhor avalia a iniciativa do prefeito?

Não conheço o prefeito Barbosa Neto pessoalmente. Mas reconheço que, já para início de gestão, ele está agindo com pulso firme. Interesses de poucos devem ser abolidos em favor das necessidades da maioria. E a maioria nesse caso é a população de Londrina, que vem se queixando dos abusos da poluição visual. Essa agressão reconhecidamente nos faz ficar deprimidos, nos envergonha como cidadãos e mostra o descaso da administração anterior. Cartas publicadas nos jornais e inúmeros comentários que chegam ao meu blog "Visual de Londrina" apontam que o prefeito está no caminho certo. Felizmente.

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