21.7.10

Autorregulamentação X Alto faturamento

Em certo dia, eventualmente ensolarado, pássaros chilreando (lindo) e a boa-vontade voejando pelo ar (mais lindo ainda), agências de propaganda, veículos de comunicação e anunciantes, todos devidamente bem representados, sentaram-se à mesa de reuniões. Cansados das reclamações de consumidores, dos jornais, rádios, das revistas e emissoras de televisão e ainda dos vários puxões de orelha recebidos de entidades públicas e associações disso e daquilo, colocaram em vigor uma espécie de bíblia que veio normatizar o setor da propaganda: o Código de Autorregulamentação Publicitária.

A partir do tal Código, descobriu-se que a publicidade enganosa não seria mais aturada; que os veículos de comunicação poderiam denunciar anúncios mal intencionados; que aqueles consumidores que se sentissem ofendidos teriam um canal de comunicação; que agora existiam regras para comerciais de bebidas alcoólicas; que dúvidas sobre alguma peça publicitária seriam colocadas em discussão no CONAR – o Conselho que supervisiona tal autorregulamentação. E vários outros tópicos.

Nenhuma agência de propaganda, nenhum veículo de comunicação, nenhum fornecedor do setor queixou-se de queda de faturamento ou do rigor do código então aprovado.

Em Londrina, contrariamente, apesar das queixas dos londrinenses, apesar das reclamações contínuas nos jornais, das denúncias na televisão, das cartas de urbanistas e do clamor geral, as agências de propaganda e as empresas de publicidade exterior jamais cogitaram de procurar sequer alguma mesa de reuniões – quanto menos reunir-se - para juntas discutirem o assunto da poluição visual na cidade.

Talvez porque não houvesse pássaros chilreando ao redor.

Ou porque não existisse boa-vontade voejando pelo ar.

Ao invés de autorregulamentação, alto faturamento, custasse o que custasse.

E entupiu-se a cidade com outdoors. Para caber maior quantidade, formaram filas, como se fossem trenzinhos.

E entupiu-se a cidade com front-lights. O que importa se estiverem tirando a visão dos moradores do prédio?

E encontraram mais e mais terrenos, para mais e mais aglomerações de placas, cartazes e outdoors.

E inventaram dois, três e até quatro andares sobrepostos de outdoors.

E montaram luminosos, placas, faixas, penduricalhos na frente das lojas e do comércio em geral.

E pintaram famigerados “reclames” nos muros – inclusive em áreas nobres da cidade.

E fizeram de Londrina uma das cidades mais poluídas visualmente do Brasil.

Mesmo no intervalo de tempo decorrido entre a apresentação do projeto “Cidade Limpa” pelo prefeito à Câmara dos Vereadores, da audiência pública e das discussões a respeito do assunto, jamais se cogitou de algo parecido com um “Êpa! Alto lá! Vamos rever este assunto! Vamos reverter a situação! Vamos agir por conta própria!”.

Não. A cidade continua exatamente como há um ano e assim permanecerá até que o projeto “Meia Cidade Limpa”, finalmente aprovado pelos vereadores, tome alguma feição, algum rosto – e a Prefeitura passe a ditar as normas das quais se eximiu durante anos a fio.

Autorregulamentação? Que nada. Alto faturamento, isto sim!

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